terça-feira, 31 de março de 2009

Feitos infundados


Há inúmeras atividades às quais podemos nos dedicar; entretanto, umas são mais dotadas de valor e utilidade do que outras, pois, nas menos dignas, o próprio passar do tempo se encarregará te findar toda proficiência por nos adquirida em tais áreas.

Um exemplo nocivo é o desmesurado cuidado com o corpo, porquanto é uma forma de vaidade sem o menor fundamento, deixando há muito de ser um mero cuidado com a saúde. Ademais, há pessoas que despendem uma enorme parcela do seu dia com frivolidades como cuidado excessivo com o cabelo, escolha de uma simples roupa, entre outra série de disparates que nem vem ao caso citar. Nenhuma crítica a uma forma sadia de vaidade, porém essas recém enumeradas estão longes de assim o serem.  Contudo, tais pessoas serão vistas como interessantíssimas, desde que se mantenham em silêncio.

Em contrapartida, há muito mais frutos em se dedicar a uma espécie de arte com verdadeiro afinco, como à música, por exemplo, pois nem o tempo poderá arruinar a habilidade de quem domina um instrumento musical, ou o conhecimento de um ávido estudioso, independentemente de sua área de atuação. 

É correto, todavia, afirmar que determinadas pessoas podem tornarem-se incapazes de fazer o que faziam devido a alguma doença, porém os cultuadores de uma beleza e um físico incríveis os perderão ao atingir uma certa idade, embora possuam uma excelente saúde para tal idade. Em suma, é como foi dito por Schopenhauer: “Não há rosa sem espinhos. Mas há muitos espinhos sem rosa”. 

domingo, 29 de março de 2009

Oposição


Julgo ser um pouco sem fundamento dizer que as pessoas são boas ou ruins, pois acho mais certo definir tais caracterizações como um estado, não como algo definitivo, consequentemente imutável.

Ao observar crianças muito pequenas, nota-se que estas se comovem ao ouvirem uma história triste; contudo, deleitam-se ao judiar de um determinado animalzinho. O mesmo ocorre quando estas estão um pouco mais crescidas: um misto de complacência e crueldade. À medida que vão sendo educadas, a bondade vai se tornando preponderante, logo, quando há privação dessa educação que tem por função humanizar, os indivíduos tendem a ir para o lado da perversidade.

Pegaremos um exemplo fictício, porque este servirá para apresentar duas causas, porém creio que há muitos casos reais análogos a esse. Na obra Os miseráveis, de Victor Hugo, o personagem Jean Valjean foi condenado a um longo período na prisão simplesmente por ter roubado um pão. Foi tratado das piores maneiras possíveis durante o cárcere e de lá saiu repleto de ódio. Contudo uma boa alma o acolheu em seu lar e além de lhe destinar cama e comida, deu-lhe bondade,  inclusive depois de Jean lhe roubar alguns artefatos no meio da noite e sair às pressas sendo pego por uns guardas que o levaram novamente à casa do bispo (seu benfeitor), que disse aos guardas não haver sido roubado pelo homem que eles acusavam, mas sim ter-lhe cedido de boa vontade os objetos que geraram suspeitas por parte da polícia. Tal gesto foi o principal responsável pela mudança de caráter do antigo detento, o qual se tornou um homem incrivelmente bom posteriormente.

Outro caso literário, porém com desfecho oposto, é o presente na obra Frankenstein, de Mary Shelley, onde a criatura executou diversos atos de bondade, embora sendo vista como abominável e por todos repelida devido a sua horripilante aparência, por fim e com muito custo, o mal venceu, por conseguinte o ser outrota cheio de boas intenções só pensava em se vingar de todos que o haviam rejeitado, sobretudo de seu criador.

Este foi crucificado devido à sua fealdade, pois, infelizmente, a beleza é diretamente proporcional à solicitude das pessoas em relação a quem dela é detentor, não restando absolutamente nada à infeliz criatura. Aquele foi salvo por meio de um indivíduo bondoso, embora a prisão e o sistema o tenham tornado incrivelmente perverso. Porquanto não é fator de espanto que as pessoas saiam das penitenciárias ainda piores do que entraram, pois ao invés de receberem uma educação e serem tratadas humanamente, se opta pelo extremo oposto. Tal metodologia é tão eficaz como tentar apagar um incêndio jogando pedaços de madeira e objetos inflamáveis.

Portanto, mediante tais exemplos apresentados, creio ser um estado passível de mudança o que chamamos de bom e de mau, não algo inato; tudo dependendo das situações nas quais estamos inseridos, pois onde houver educação, arte e oportunidades a bondade prevalecerá; contudo, onde não houver nem alimento para os seus habitantes, certamente não haverá altruísmo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Só a mudança é permanente


Como disse Russell: “Pouquíssimas pessoas são capazes de inferir o efeito das circunstâncias em suas personalidades.”, pois quando nos damos conta, já somos diferentes do que éramos há pouco tempo.

Tudo compartilha para a mudança, porque cada ação é uma experiência, creio que se nascesse em um país europeu, no leito de uma outra família qualquer, embora com as mesmas características genéticas, seria um ser completamente diferente do que sou hoje em relação à indumentária, hábitos e formas de pensar, porquanto, provavelmente, não teria acesso aos mesmos livros e músicas, ademais, decerto, não teria os mesmos professores, amigos e familiares.

Não que sejamos todos um produto do meio onde estamos inseridos, longe disso; somos, contudo, influenciados por nossas vivências e convivências. Nascemos imersos em distintas formas de crenças e superstições, e dificilmente nos daremos conta disso sem um descerrar de olhos, normalmente motivado por parte de algo (não necessariamente uma pessoa, também por meio da arte: música, cinema, literatura, etc.).

Pois não creio em dons; acredito que tudo é uma questão de interesse despertado ou adormecido, porque onde há uma vontade genuína também há formas de se alcançar o almejado. Por exemplo, posso pensar que certo indivíduo por ser uma sumidade em biologia é provido de dons incríveis para suportar tais estudos que tanto me desagradam; entretanto, deve ele pensar o mesmo em relação a algo que gosto e me dedico com afinco, contudo que lhe  soa completamente entediante àquilo se dedicar.

Concluindo, creio que a forma como lidamos com o acaso é a mais importante de nossas ações, pois este se bem aproveitado pode significar um grande atalho no caminho desejado, portanto o que somos e nos tornaremos é muito mais de nossa responsabilidade do que de quem está presente em nossa vida, conquanto recebamos e precisemos, algumas vezes, de um empurrãozinho por parte desses, a verdade se resume em como brilhantemente foi dito por Shakespeare: "Você faz as suas escolhas e as suas escolhas fazem você".

quinta-feira, 19 de março de 2009

Ensinamentos incinerados


É intrigante o número de pessoas que afirmam como tudo seria mais fácil se as pessoas viessem com manuais de instrução (isso relacionado a relacionamentos); porém, isso findaria com toda a expectativa oriunda de uma frase incerta, acabaria, é verdade, com todas as desilusões amorosas, contudo nos privaria dos prazeres existentes em gostar de outrem, pois, da mesma forma, qual é a graça de se contar uma piada onde sabemos que todos rirão no final? Qual o fundamento de saber exatamente o presente ou a frase perfeita entre milhares? Acabaria com tudo, inclusive com a criatividade, assim como no país da Utopia de Schopenhauer, onde os frangos já voariam assados e seria algo muito simples para todos encontrar o amor de sua vida, não haveria esforço nem recompensa, só um tédio sem limites. 

Ademais, muitas representações artísticas sequer existiriam ou nelas não veríamos fundamento, como as obras de Shakespeare, Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, etc, pois qualquer forma de erro nos soaria infundada, além da inexistência dos temores e dúvidas em relação ao amor e suas consequências. A graça reside na incerteza e na expectativa gerada por esta, sendo a maneira de vencer o fastio o esforço para se aprender o que se desconhece e aperfeiçoar o que nos é imperfeito, por conseguinte, acredito que se tais manuais existissem muitos os incinerariam sem recear.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Duas faces


Muitos adjetivos vistos como destrutivos podem ser bastante construtivos para indivíduos que lhes usufruírem de forma correta, é o caso da curiosidade, por exemplo, pois no que tange ao hábito de observar a vida alheia, e olvidar a sua própria, esta é execrável; porém, a mesma pode ser muito produtiva se consistir em ansear sempre por conhecer novas informações, pessoas, opiniões, músicas, filmes, livros entre inúmeros outros exemplos.

O mesmo ocorre com a simpatia, porque não há nada mais desagradável do que os aduladores, os quais querem ser simpáticos em excesso com todos, embora estes sequer lhes sejam agradáveis de conviver por mais de alguns instantes, por conseguinte privam-se de despender seu tempo consigo próprios, para utilizá-lo em favor de outrem. Ao contrário, uma simpatia sutil é bastante agradável, esta se resumindo em ser cortês com os demais, contudo sem bajular quem nos desgosta, também sem ser indecoroso com estes. 

Dando continuidade, o pessimismo se for visto como uma ausência de grandes expectativas em relação ao que poderá acontecer acabará gerando bem menos frustrações do que um otimismo desmedido onde tudo denota ter ido aquém do esperado. Todavia, um pessimismo extremo que se resuma em nada fazer por uma completa certeza de não adquirir a menor forma de satisfação no final das contas é a maior das infelicidades e um imenso impedimento para se viver. Em suma, tais características são como um caminho que se separa em um determinado ponto, sendo uma parte dessa divisão repleta de trevas e a outra de luz, como a solidão que nos edifica e outra cuja função é nos arruinar.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Livros


É comum uma enorme crucificação dos best-sellers por parte de professores de literatura e demais leitores dos clássicos alegando que estes são livros efêmeros, pois vendem incrivelmente em um determinado momento, são o tema principal de inúmeras conversas e instantes depois o tempo os transforma em poeira. Concordo que muitas dessas obras realmente pouco acrescentam em matéria de instrução e hábito de pensar por si só ao leitor; contudo, pode-se descrever a literatura como uma grande escada, onde os degraus equivalem aos níveis de dificuldade de cada obra, logo se o leitor de primeira viagem resolver subir três ou quatro degraus de uma vez só, poderá cair e tal queda redundar em um temor ou em uma aversão àquela forma de ascensão ao conhecimento. Na obra "Ensaios céticos", de Bertrand Russel, o autor conta uma espécie de fábula, não de sua autoria, alegando que todos somos favoráveis à instrução, até mesmo sentimos necessidade da mesma, porém podemos ficar temerosos em relação a esta se houver qualquer espécie de precipitação e formas ineficazes de estímulo.  Um homem almejava ensinar o seu gatinho em tenra idade a caçar ratos, porém o felino não estava preparado e não obtinha êxito no que seu dono desejava, por conseguinte, este lhe batia visando educá-lo, o resutado disso tudo foi desastroso, porque o gato cresceu e cada vez que via um rato se punha a tremer desesperadamente. Contudo, se fosse educado por sua mãe e aprendesse aos poucos e tendo um ensinamento desprovido de punições, acabaria transformando em uma satisfação tais caçadas, o conto presente na obra é basicamente este, logo fica evidente nosso instinto por conhecimento, tanto que a criança entre dois e três anos despende enormes esforços a fim de aprender a falar como seus progenitores o fazem, e sempre alcança o sucesso nesse intento, apenas observando os demais falarem e praticando a todo instante, sem punições nem precipitações.

Também já fui bastante contrário aos clássicos da literatura, a ponto de chamá-los de estúpidos; contudo, minha opinião mudou a tal respeito, somente não estava pronto para lê-los na época de tal afirmação infeliz. Voltando ao assunto dos best-sellers, estes que atualmente, até para certo espanto, estão abordando temas deveras interessantes como filosofia e a segunda guerra mundial, dando destaque para as obras "O mundo de Sofia", "Quando Nietzsche chorou" e "A cura de Schopenhauer", que além de serem livros bem escritos, instigam os leitores a ler acerca dos autores citados em tais obrasEm suma, precisa-se de um certo estímulo, pois vontade todos temos, a menos que essa seja podada por um mau jardineiro, que ao almejar findar uma erva-daninha, acabe cortando uma bela rosa sem intenção.