quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Desejo revê-la


Torcia para vê-la retornar

Todavia, de distorcer o sentimento

A distância ousou se encarregar


Desincumbiu-se da tarefa a contento

Transformando um olhar caído em riso contente;

A vida devidamente observada é belo experimento


Contudo, afasta-se para longe o ser indiferente

Denotando ser a saudade desprovida de princípios

Pois a alegria desponta quando você se faz presente


Entretanto, imergirei em uma série de suplícios

No instante em que nova ausência de súbito ocorrer

De forma análoga a um ciclo: repleto de fins e de inícios


sábado, 16 de janeiro de 2010

Pretexto e protesto


O cenário era uma minúscula vila, cingida por árvores, rios e pequenos animais, estes dispunham de olhares bastante atônitos, dirigidos às pessoas ali presentes, não a elas propriamente, mas sim a seus atos. Um mantinha belas aves encarceradas em gaiolas, obrigando-as a cantarem a fim de o entreter; outros caçavam meramente por prazer, visando não mais divisar o tédio, ao menos durante alguns instantes. A fauna sendo privada da vida para abster seres mesquinhos de momentos enfadonhos. O fastio lhes soa medonho, somente ele, infelizmente. 

Os indivíduos habitantes do ínfimo local zangavam-se se não houvesse uniformidade entre eles, portanto logo ensinavam aos pequenos as formas corretas de pensar. Podia-se ver um homem de cerca de cinquenta anos instruindo um rapaz de tenra idade acerca de alguma baboseira, quiçá privando-lhe de sua ternura, porquanto viam-na como um atroz defeito.

De súbito, antes de uma completa descrição, principiou um intenso incêndio na vila e em suas cercanias, animais foram instantaneamente incinerados, puderam-se ver seres humanos serem devorados por chamas vorazes. Entretanto, havia um fato ainda mais esquisito: nenhum deles fazia sequer um exíguo movimento tencionando fugir do fogo, mantinham-se com as mesmas expressões ostentadas enquanto tudo lhes parecia correr bem. Até mesmo os animais permaneciam imóveis, talvez estivessem habituados ao martírio. 

- Tudo acabado!

Lamentou o desolado pintor, cujo último quadro acabara de ser incinerado pelos cidadãos em fúria, ante a forma como foram retratados pelo artista. Indagaram-lhe se preferia ser queimado também a cessar suas produções nefastas. Não almejavam arte onde viviam, porque a única função desta, afiançavam, era corromper os mais novos e desviá-los do realmente necessário. 

O pintor lamentou-se diante de todos os seus retratos retalhados, após, viu seus pincéis e tintas serem entregues à incandescência. O sentido de sua vida também havia sido reduzido a cinzas. Nunca mais produziria nada, estava escrito nos olhares furiosos de seus vizinhos. Destarte, concluiu amargamente: "na ausência de traços, entrega-se a arte e a si mesmo às traças".


domingo, 10 de janeiro de 2010

Livros engavetados


No quarto não há muita arte

Nem livros por toda parte

Há muitas ideias e imaginação

Reclusas; sem grande exposição

Em um recôndito ambiente

O qual intitulamos de mente


Ser desmacarado é perder;

Desmascarar-se é vencer

Afiançou um ser que sábio julgo

Refiro-me ao sublime Victor Hugo


Gaivotas aprisionadas em gaiolas

Indivíduos escravos com argolas

Livros na sombra de uma gaveta

Reflexos de um mundo maneta


domingo, 3 de janeiro de 2010

Universo em verso


Descrever o universo em verso

Se parece fácil, é o inverso

Em contrapartida, a alegria

É tão simples e tardia


Podemos nos considerar

Se a vaidade não recear

Caçadores indolentes

Protelando presas prementes


Porém, a felicidade se rende

Pois sem titubear atende

Ao clamar da voz

Sendo mansa, não feroz


A alguns denota ser dócil;

A outros é apenas um fóssil

Em suma, no centro da terra

Ou nas profundezas do coração