segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Contemplando o tempo













“Quanta tolice há no homem que se arrepende e lamenta por não ter aproveitado oportunidades passadas, as quais poderiam ter-lhe assegurado esta ou aquela felicidade ou prazer! O que resta desses agora? Apenas o fantasma de uma lembrança! E é o mesmo com tudo aquilo que faz parte de nossa sorte. De modo que a forma do tempo em si, e tudo quanto é baseado nisso, é um modo claro de provar a nós a vacuidade de todos deleites terrenos” Arthur Schopenhauer – O vazio da existência

É notória a inexistência de deleites indeléveis, pois independente da intensidade de um prazer ou de uma alegria, com o andar da carruagem do tempo, o mesmo tornar-se-á diminuto, podendo até mesmo perder-se no labirinto florestal que é a nossa memória, sendo devorado pelo indômito Esquecimento. Decerto não é infundado lamentar o fato de algo tão sublime como a alegria ser dotada de desmesurada efemeridade. Contudo, lamúrias não são responsáveis por mudança nenhuma, ademais nada valem por si sós.

Schopenhauer afirma que apenas o presente existe, porquanto o que já se passou não é mais real. Porém, tudo tende a tornar-se nada, no máximo, com certa dose de otimismo, lembrança ou esquecimento. Nas palavras do filósofo: "O que foi não mais existe; existe exatamente tão pouco quanto aquilo que nunca foi. Mas tudo que existe, no próximo momento, já foi. Consequentemente, algo pertence ao presente, independentemente de quão fútil possa ser, é superior a algo importante pertencente ao passado; isso porque o primeiro é uma realidade, e está para o último como algo está para nada.". Porém, afirma que nenhum esforço sério merece ser destinado ao que, em poucas voltas do relógio, deixará de ser uma realidade.

Poder-se-ia dizer, por conseguinte, que não há fundamento em se viver, porque nossas atitudes brevemente tornar-se-ão passado, ou seja, deixarão de existir instantes após serem perpetradas. Entretanto, a sentença acima merece ser contestada sob diversos aspectos. Por exemplo, se um excelente livro for lido em uma noite qualquer, mudará a vida do leitor, as formas de pensar presentes no escrito acompanharão quem as leu por um indeterminado período, quiçá perene, proporcionando que o indivíduo aja de forma diferente devido ao contato com tais pontos de vista, que outrora lhe eram desconhecidos. O mesmo se dá com um colóquio produtivo ou com a consolidação de uma amizade, pois embora as recordações das felicidades não passem de sombras, a estima mútua entre os confrades propiciada pelos diálogos permanecerá.

Portanto, pode-se pensar que é bastante simples observar os empreendimentos que merecem receber nosso devido afinco e os que devem ser ignorados, pois nada nos acrescentarão e cuja essência nem sequer existe. Porém cada ação que se faz pode modificar uma vida inteira. Destarte, mesmo ao se estar fazendo algo mesquinho, podemos conquistar resultados formidáveis, como conhecer certa pessoa a qual será responsável por mudar nosso trajeto existencial drasticamente.

Em suma, se somos incapazes de prever casualidades, estas que se dão a todo o momento, devemos, indubitavelmente, apelar ao bom senso na hora de agir, visando dispor de fontes prazerosas, que sejam concomitantemente capazes de nos elevar além das mandíbulas nefastas do tempo, fazendo com que nos sorriam ao invés de pelas mesmas sermos extirpados.


Um comentário:

Regina (SP) disse...

Michel,
Reflito sobre sua reflexão acerca do texto de Schopenhauer, a qual apreciei demais.