segunda-feira, 3 de maio de 2010

Livre arbítrio


Aprende-se, desde cedo, que o ser humano dispõe de uma liberdade intitulada livre arbítrio, a qual consiste na possibilidade de escolha na hora da ação; porém, existem atitudes passíveis de punições divinas; outras, todavia, encaminham-nos, se perpetradas, ao reino dos céus. Destarte, cabe a nós escolher como proceder.

Seria equivocado compararmos o ser supremo a um adulto experiente, enquanto nós mesmos poderíamos ser vistos como recém-nascidos carentes de vivências e racionalidade? Creio haver maior disparidade entre os seres aqui comparados, contudo uma diferença demasiado branda poderia ser vista como ofensiva. Portanto, tomados de excessivo otimismo, optemos pelo meio-termo e imaginemo-nos como um rapaz de tenra idade, com cerca de quatro anos, e o mundo pode ser visto como uma sala qualquer, na qual há diversos objetos, alguns inócuos, outros nem tanto, como tesouras, agulhas e chamas em uma lareira. Seria sensato fornir de desmedida liberdade uma criança envolta por tamanhas tentações, pois sua curiosidade é notória? Da mesma forma, caso ela se ferisse com algum dos utensílios cortantes ou acabasse queimada pelo fogo ali presente, deveríamos recrudescer o tormento com nossas próprias punições em virtude de tamanho mau comportamento? Acredito que um pai que assim procedesse decerto seria denunciado, acusariam-no de indiferença, pois abandonou seu filho em um perigoso recinto, sem a menor supervisão acerca das atitudes de seu rebento, outrossim achou sensato punir o infante por falhas cometidas por ele próprio, afinal, safou-se de suas obrigações paternas.

Como nas famílias de pais ausentes, o cargo de tomar conta dos irmãos mais novos e menos arrazoados compete aos filhos mais velhos e de sensatez mais aguçada, portanto estamos constantemente sob a vigilância de indivíduos que se importam sobremaneira conosco, logo tencionam guiar nossos passos para onde o arder das chamas não possa ser sentido. Entretanto, assim como o seio materno é necessário para os indivíduos pueris se desenvolverem, certos contentamentos inofensivos servem para que indivíduos adultos possam suportar sua penosa existência, deste modo privá-los de tais fontes de alegria pode ser considerado um ato perverso ao invés de caridoso.

Finalizando, da forma como os indivíduos são tratados onde habitam em conjunto com seus familiares, não é de se admirar que, cada vez mais cedo, almejem abandonar suas vivendas e estabelecer residência onde possam desfrutar de um sistema de vida regido por crenças que eles próprios erigiram. Afinal muitos genitores devem ter ensinado a seus pequenos o fato de a terra ser plana, a despeito dela jamais o ter sido.

Nenhum comentário: