quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Veneração ou cegueira desmesurada
É uma tarde chuvosa e fastidiosa, onde o tempo denota não ter nenhuma pressa de passar, embora eu anseie pela sua passagem (de forma célere, preferencialmente); contudo, é como clamar com os olhos para que o relógio acelere seu movimento, ou seja: inútil, o máximo que se pode conseguir é o efeito contrário. Na verdade o tempo age de forma oposta à que almejamos, li em algum lugar que enquanto se é novo, sentimos como se tivéssemos um longo percurso a percorrer, entretanto quando se é velho, parece que andamos tão pouco e já estamos nos acercando do término da vida. (mais uma vez o tempo agindo contra nossos anseios).
Ok, porém o assunto deste post não é o tempo, mas sim formas irracionais de veneração, certo dia, estava assistido a um programa de madrugada, e no mesmo havia uma calorosa discussão acerca de mitigar a maioridade penal, havendo os dois lados da moeda a opinar, e no término do debate, um artista do qual gosto bastante foi inquirido acerca da sua opinião sobre o assunto, o músico respondeu que sinceramente ele não sabia qual era sua opinião, enquanto olhava o programa, acompanhava na comunidade do orkut da banda as opiniões que os fãs deixavam, e a grande maioria achou excelente a resposta dada pelo vocalista, que convenhamos não disse nada, conquanto eu também seja fã, portanto embora sejamos fãs de alguém não devemos concordar com tudo que fala, assim como segui-lo cegamente.
domingo, 23 de novembro de 2008
Bem-vindo, tédio
Chega um visitante inesperado, há bastante tempo não dava o ar da graça, seria possível acalentar a ilusão de jamais com ele nos depararmos se não fôssemos tão dependentes do meio em que vivemos e de outrem. A indiferença oriunda de uma suposta fonte única de alegria, em seu limiar, é um sussurro, em instantes se torna um brado, culminando em um alarido, cuja função é chamar a mais repudiante das sensações, que embora julguemos estar a quilômetros de distância, nos acompanha mais do que nossa própria sombra, pois a ausência de luz, cuja função é inibir as sombras, lhe dá maior ânsia de surgir e nos atormentar, seu maior prazer.
Assim como cruzar por ruas inóspitas pode ser um tanto deprimente e assustador, uma vida desabitada é algo atemorizante, que ao menos haja visitas esporádicas, pois a maior verdade é que desabitada ela jamais será, porque quanto mais tentarmos assim deixá-la, mais vezes o tédio virá nos visitar, portanto que venham os amigos e as distrações e se vá o enfadonho, porquanto o tédio deve ser um visitante efêmero, jamais um eterno companheiro de quarto.
domingo, 9 de novembro de 2008
Metáforas
Uma obra literária para que tenha um grande impacto no leitor, a contento do que o escritor espera, não deve somente dispor de um assunto e de uma intenção por parte de quem a escreveu, pois a forma da mensagem é deveras importante, quiçá um divisor de águas entre o provido de talento literário e o destituído.
A forma é de extrema importância em todo tipo de arte, por exemplo, no jeito por que Shakespeare optou descrever o quão destrutivo e descabido é o ódio: "O ódio é um copo de veneno que bebemos esperando que o outro morra"; tal frase poderia ser dita de uma maneira mais simples, sem a utilização dessa bela metáfora, entretanto não causaria o mesmo impacto no leitor, ou no caso do poema Canção do amor imprevisto, de Mário Quintana, onde o poeta relata desta forma a chegada do amor à vida de alguém que faz de tudo para não ter de deparar com o mesmo; porém, sente uma imensa felicidade com a sua aparição :"A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil aonde viessem pousar os passarinhos". Assim como na música, tendo como exemplo a canção Nunca se sabe, da banda Engenheiros do Hawaii, onde há o seguinte trecho: "Se ando sempre apressado, se nunca sei que horas são, é porque nunca se sabe até que horas os relógios funcionarão", que nos fala da brevidade da vida e dos temores referentes a ela, de um jeito bastante criativo, utilizando-se de um campo semântico concernente ao tempo e de mais uma bela e inteligente metáfora.
sábado, 1 de novembro de 2008
A verdade a ver navios II
O tempo denotava se arrastar enquanto esperava diante da porta fechada, o silêncio o atemorizava, e manias estranhas típicas do nervosismo, como mexer nos cabelos, lhe acometiam aos montes. Por fim, após três quartos de hora ou quinze segundos, alguém veio lhe atender, afirmando que a garota a qual ele estava procurando, no momento, ali, não se encontrava. Agradeceu e saiu a passos vagarosos, ainda incerto se aliviado ou consternado pela ausência da garota. Notou que a perda do temor fora mera ilusão; contudo, às vezes, é preciso enganar a si próprio a fim de que algo bom tenha chances de acontecer, pensou, afinal o fazemos tanto e nem sequer com nobres intenções, simplesmente visando protelar algo enfadonho deixando tal incumbência para o nosso "eu de amanhã".
A dúvida pairava sobre sua cabeça, não sabia se ia, embora atrasado, para a sua aula ou se ia embora para casa aproveitar o momento para compor uma canção infeliz em sua velha viola. Enquanto estava imóvel em uma praça, nas cercanias da casa da menina, acompanhado da indecisão, notou uma bela garota ruiva andando do outro lado da rua. Obviamente, era quem ele almejava ver, atravessou a rua vacilante, tentando, da melhor forma possível, dissimular naturalidade. A garota parou após a menção de seu nome e ambos conversaram por alguns intantes, ao fim cada um saiu em uma direção distinta; entretanto, podia se notar um sorriso no rosto do rapaz, cuja aparição este foi incapaz de conter.
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