quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Elogios que não elevam


Estava, esses dias, conversando com um amigo acerca dos elogios, do quão benéficos e do quão prejudiciais podem ser. Primeiramente, pode-se objetivar que nada é mau por si só, visto que depende da relação que terá com a pessoa com a qual entrar em contato, eis uma afirmação correta, entretanto é difícil se esquivar dos danos provocados, sobretudo quando não somos muito maduros, de maneira semelhante, pode se perguntar se é possível ficar um longo período exposto a um sol escaldante sem que ocorra algum problema, embora ínfimo?

Conclui-se que, embora o calor proporcionado pelo astro rei seja aprazível, o mesmo pode acarretar efeitos nefastos. Com relação aos elogios, sucede algo bastante análogo, porque é deveras agradável a sensação de se ouvir um comentário positivo acerca de algo que realizamos a contento; contudo, pode-se obter uma espúria convicção de que estamos demasiado proficientes naquele empreendimento, destarte, não mais nos empenharemos em aprimorá-lo. Pode-se adaptar o exemplo de Sêneca para o contexto em questão: “Penso que muitos poderiam ter chegado à sabedoria se não pensassem já serem sábios, se não tivessem dissimulado para si mesmos algumas coisas e se não tivessem passado por outras tantas com os olhos fechados. Não há razão para pensares que a adulação alheia nos é mais perigosa que a nossa própria”.

Porém, há uma forma ainda pior de estrago gerada por elogios desmesurados, porquanto a primeira pode frear o empenho voltado a certa atividade; esta, por sua vez, finda algo de produtivo antes mesmo que àquilo se inicie a dedicação. Pode ser notada naqueles indivíduos que desde pequenos são venerados, porque detêm uma incrível beleza física, assim sendo, obtêm tudo com menos esforço do que o habitual, tornando-se pessoas pouco hábeis no que é realmente útil. 

Felizmente, há exceções, pois nem todos se deixam influenciar negativamente pela admiração alheia. Porém, em geral, é triste que algo tão agradável como ser elogiado produza efeitos tão improdutivos. Em suma, equipara-se a enfeitar uma ave com um belo e pesado ornamento, este que a dotará de imenso esplendor; todavia, a privará de voar.

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