quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vislumbres de Vaidade


“Porventura crês e, aqui, como velho jogo flores sobre mim mesmo, teria passado meus dias e noites atarefado, em tempo de guerra e em época de paz, se com a minha morte também morressem minha fama e glória?
Não teria sido preferível ter vivido na tranqüilidade, sem empenhos e labutas?" Cícero

Um veículo não se move sem um combustível, o mesmo ocorre com a espécie humana, que nada faz se inexiste um impulso, este que é oriundo de um sentimento ou sensação, e de um desejo, cuja função é satisfazer, anular ou manter o que nos instigou a agir. Pode-se constatar a presença da vaidade entre os principais fatores que nos movimentam.  
Primeiramente, é possível notar uma desmedida dose de vaidade na frase de Cícero, a qual principia este escrito, porquanto o filósofo age pensando na posteridade. O mesmo pode-se notar por parte de certos católicos, na obra O elogio da loucura, de Erasmo de Rotterdam, que se gabam de pouca relevância dar às coisas mundanas, visto que uns se vangloriam de nunca terem lavado o hábito que vestem, outros, de jamais terem tocado em dinheiro, alguns, de realizarem jejuns por longos períodos, entre outros exemplos, contra os quais o autor afirma que Deus apenas almejava que eles exercessem a caridade.
Como se viu, a vaidade é intrínseca ao homem; contudo, pode ser benéfica ou não. Certos indivíduos gabam-se de possuir uma compleição escultural, realizando diversos esforços na obtenção da mesma; entretanto, como disse Erasmo: “Em suma, se a aparência fizesse homens, as estátuas seriam parte do gênero humano”.
Sêneca afirma haver vaidade até mesmo no atinente à morte de outrem, pois fingimos estar muito mais tristes do que realmente estamos na presença de outras pessoas, mesmo quando a dor já passou, dissimulamos a sua permanência. Há outro exemplo interessante na obra O cavaleiro inexistente, de Italo Calvino, na qual há uma armadura alva impecável, todavia não há nenhum cavaleiro dentro da mesma, embora ela se mova e seja capaz de falar. Tal ser é impecável em tudo que faz, e desmente seus companheiros quando contam histórias espúrias ou imprecisas acerca de seus feitos no exército, outrossim, os repreende quando não se empenham com o devido afinco em suas tarefas, em suma, fere a vaidade de seus confrades, e é justamente por isso que é um cavaleiro inexistente, porque ninguém almeja alguém assim por perto, porquanto preferem manter a boa impressão que possuem de si próprios. Como disse Albert Camus: “Sobretudo, não acredite nos seus amigos, quando lhe pedirem que seja sincero com eles. Só anseiam que alguém os mantenha no bom conceito que fazem de si próprios, ao lhes fornecer uma certeza suplementar, que extrairão de sua promessa de sinceridade. Como poderia a sinceridade ser uma condição da amizade? O gosto pela verdade a qualquer preço é uma paixão que nada poupa e a que nada resiste. É um vício, às vezes um conforto, ou um egoísmo. Portanto, se o senhor se encontrar nesse caso, não hesite: prometa ser verdadeiro e minta o melhor que puder."
Concluindo, é notório haver pontos positivos e negativos no que concerne à vaidade, embora os infundados denotem preponderar, desta forma suscitando um número cada vez maior de armaduras (lembranças) dotadas de imensa retidão; todavia, desprovidas de cavaleiros.

3 comentários:

Vinícius Cortez disse...

Vindo aqui de espontânea vontade!

Cara, gostei muito do seu layout, do seu conteúdo e da sua forma de escrever. A única coisa que acho que podia melhorar era a formatação do texto. Que tal elaborar parágrafos com maior espaçamento, pulando linhas?

Afora isso, já assinei o seu RSS, volto aqui na sua próxima postagem!

(:

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http://o-quasar.blogspot.com/

disse...

Você escreve muitíssimo bem! morro de inveja! haha
:*

Vinícius Cortez disse...

Vc citou Wilde! Toda pessoa fica um pouco melhor quando lê Wilde ;]

E tentando ser preciso, realmente eu sinto falta das ferramentas de edição de texto no blogspot (não entendo que não as tenha, se o Googledocs tem!), mas tentei dar uma volta ao problema deste jeito:

Mudei o tamanho da fonte para menor. Assim, além de a postagem ficar mais elegante, a distância entre duas linhas aumenta; também, para improvisar os parágrafos, adiciono sempre ___ antes das primeiras linhas, colorindo-os de branco (no seu caso, da cor do seu fundo). Não é o ideal: nos rss vão aparecer os ___, assim como nos blogrolls dos seus amigos, mas dá para o gasto. E, claro, entre dois parágrafos sempre dou um "enter" pra aumentar a separação.

Espero ter sido útil; abraços!