quinta-feira, 28 de maio de 2009

Um ou outro


Albert saiu apressado para seu trabalho, nem sequer tomou todo seu café, pois seu relógio novamente não despertara. Felizmente, pôde chegar a tempo ao ponto de ônibus e não se atrasar para seu emprego, porque todas suas desmedidas preocupações giravam em torno de uma possível promoção.

Era um rapaz de convicções bastante consolidadas, não que tivesse despendido horas meditando acerca da veracidade das mesmas; simplesmente não lhe agradava o fato de constantemente mudar sua forma de pensar a respeito de algo, ademais, podia dar-se o pretexto de que muitas outras pessoas acalentavam as mesmas ideias. E é sabido que é mais fácil suportar algo sobre as costas de muitos, do que nas de apenas um único ser. O peso nem sequer é sentido.

Já estava na empresa há cerca de três anos, simpatizava com a maioria de seus confrades de profissão, excetuando três deles. Bernard era um desses e estava presente na competição pelo novo cargo, cuja decisão seria tomada em pouco tempo, mal sabiam eles que a entrevista seria naquele mesmo dia. As horas passaram vagarosamente, visto que praticamente ninguém adentrou o escritório, naquela manhã, afora o tédio, os próprios funcionários e o mau humor de Albert, este que era oriundo do seu despertar após a hora planejada, redundando em uma correria desnecessária, caso o relógio tivesse funcionado a contento.

De súbito, Albert e Bernard foram chamados à sala de seu patrão, logo lhes surgiu a ideia de que a seleção seria feita naquele instante. Bernard causava tanta aversão a Albert que este discordava de tudo que fosse proferido por seu rival, dando, neste caso, muito mais relevância ao detentor das ideias do que ao conteúdo das mesmas. O chefe lhes inquiriu acerca de como planejavam exercer a nova função na empresa caso a obtivessem. Bernard se antecipou e retorquiu que buscaria motivar a criatividade dos demais companheiros a fim de desenvolver novos acessórios mais modernos e lucrativos, para tanto, dar-lhes-ia maior liberdade, adotando uma política de consideração ao invés de uma desmesurada rigidez. O chefe fez um sinal de aprovação. Porém, embora Albert objetivasse uma política análoga à do concorrente, foi incapaz de concordar com Bernard, como jamais o fora. Portanto, argumentou o extremo oposto.

Foi-lhes pedido um tempo para pensar, havendo a promessa de uma resposta na semana vindoura. Albert, após o nervosismo do momento, foi acometido por uma crescente fúria ante o outro rapaz, porquanto este se adiantou e disse praticamente o mesmo que Albert tencionara dizer, o obrigando a falar algo extremamente contrário ao que almejava, porém não havia mais nada a fazer, pois a partir do momento em que Bernard iniciou sua argumentação, Albert preferiu contrariar a si mesmo do que deixar o orgulho de lado e afirmar que tinha pontos de vista semelhantes aos que o rival externara. Em dados momentos, não há espaço em um mesmo ambiente para o orgulho e a razão, da mesma forma que o tédio, ao se deparar com a presença da alegria, resolve ir embora e retornar mais tarde.

2 comentários:

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

Parece que é da natureza humana pretender ser contrário, principalmente quando se trata de duas pessoas que tem idéias contrárias a respeito de um mesmo assunto... se este assunto se alongar consideravelmente, tanto um como o outro apresentará falhas na argumentação, porém não haverá consenso. Nunca.

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

Duas pessoas sempre tendem a demonstrar quão diferentes são uma da outra, quando não tem a mesma opinião... mas quando se trata de namorar, casar e etc, ironicamente aparecem vários interesses e gostos comuns! rs