quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A verdade a ver navios I


Era uma cálida e agradável tarde de verão, deveras propício para se ficar em casa pensando na vida ou fazendo alguma outra coisa agradável; contudo, o rapaz de cabelos desgrenhados estava atrasado, corria contra o tempo e enfrentava um calor infernal. O silêncio o incomodava, porém não mais que a barulheira da cidade grande, portanto pôs seus fones de ouvido e escolheu uma música aleatoriamente em seu mp3, a canção executada por obra do acaso foi A verdade a ver navios da banda Engenheiros do Hawaii, cuja letra fala sobre oportunidades desperdiçadas justamente na hora em que elas tinham a maior probabilidade de sucesso, simplesmente por falta de coragem. Enquanto andava celeremente em direção ao seu destino, começou a refletir acerca das palavras ditas na música, e de súbito, uma infinidade de imagens lhe veio à mente, havia perdido oportunidades demais, pensou. Rememorou garotas adoráveis que deixara escapar por entre os dedos, por receio de abraçá-las, sobretudo uma de doces cabelos avermelhados. De súbito o tempo deixou de ser importante, já não mais sabia aonde estava indo. O sol alaranjado denotou dar-lhe confiança, decidiu usufruir desse momento onde temor algum o rodeava e mudando seu rumo foi em passos mais céleres ainda rumo a um perdão que tanto almejava e quiçá a intrepidez pudesse ajudá-lo a obter. Cantarolando um trecho da canção a qual acabara de ouvir: "É muito engraçado que todos tenham os mesmos sonhos e que o sonho nunca vire realidade", parou defronte a uma grande porta, felizmente, nem sequer pensou em desistir, desistiu de premeditar o que ia dizer, tocou a campainha e aguardou.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Passos e pensamentos


Era um indivíduo um tanto excêntrico, vinha retornando para casa após um dia comum, ou seja, fastidioso, voltava sozinho, sem pessoas, sem música, acompanhado apenas por ele próprio e seus pensamentos, que nessas horas são os melhores acompanhantes. Notou a noite, as pessoas em frente à televisão em lares quentes e os postes a cujas luzes já tinha sido ordenado que se acendessem. Pensou acerca da relatividade do tempo, pois se apercebeu do quanto estava custando para chegar em casa, porque é notório que caminhamos mais rápido quando andamos sozinhos, pensou ele, entretanto uma boa companhia é capaz de enganar o tempo ou a nossa percepção acerca do mesmo. Rememorou o quanto um minuto pareceu uma eternidade enquanto segurava uma panela escaldante, assim como uma eternidade denotou não durar mais que um minuto quando estava ao lado de uma garota adorável. Sim, o tempo é relativo. Em outro assunto que pensava bastante quando vinha em altos diálogos mudos consigo mesmo era nos conceitos de bom e ruim. Via o bem como o difícil de se alcançar, como um bom emprego, uma garota distinta, a capacidade de tirar novos sons de sua guitarra, e o ruim como o simples de se obter, por exemplo, ser exonerado de seu trabalho; era pura questão de negligenciá-lo, ou de findar um namoro, algo tão simples fazer alguém deixar de gostar da gente, difícil mesmo é conquistar, assim como abandonar a música e julgá-la inalcançável é tão, tão fácil. Pronto. Chegou em casa e notou que não foi de todo infrutífera sua caminhada pelas ruas pouco iluminadas, agradeceu pela companhia, destrancou a porta e adentrou.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Reminiscências


Há um tempo, existiam dois grandes amigos, possivelmente ambos ainda existam; a amizade, contudo, se desfez. Não por obra de alguma ação por parte de um deles, mas sim devido a um comum distanciamento que a própria vida se encarrega de gerar. Um deles dispunha de um vídeo game, do qual ambos usufruíam com afinco e alegria. Houve uma promoção em um grande mercado da cidade onde viviam, esta consistia em dar um exemplar daquele moderno aparelho que abrilhantava as tardes dos dois garotos a quem acertasse o futuro campeão mundial de futebol (pelo menos foi essa a interpretação feita por um deles), ganhava-se uma cautela comprando acima de uns tantos reais e ali se assinalava o nome do time o qual se acreditava que seria o novo campeão. O garoto, no auge da esperteza infantil, obteve duas cautelas e assinalou em cada uma delas o nome de um dos times concorrentes, e na parte concernente aos dados pessoais pôs os do amigo, deste modo jurando que este acabaria por ganhar o tão cobiçado aparelho, pois não haveria como errar o campeão tendo apostado em ambos. Doce ilusão, melhor defini-la como amarga. Logo, seus pais lhe explicaram que o prêmio seria concedido mediante um sorteio para um daqueles que marcaram a opção correta, acabando assim com parte da inocência a qual cingia o garoto. Incrível seria se as coisas sucedessem assim como as imaginávamos quando éramos criança, deste modo pensa um deles, quiçá ambos, impossível de se saber.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Influências


Estava esses dias lendo Os sofrimentos do jovem Werther e há duas passagens bem interessantes acerca do quão afetados somos por outrem. Na primeira, o protagonista conta a um amigo como conseguia ser muito de si mesmo na presença de determinada garota, o que concordo bastante, primeiramente porque é incrível como juntos de certas pessoas parece que a nossa criatividade se aguça, entre diversas outras mudanças positivas, nos sentimos à vontade e, consequentemente, somos o máximos de nós mesmos. Segundo, pois concordo com o fato de uma pessoa não poder ser mais do que realmente é. No segundo trecho, o jovem por tanto sofrer de amor faz uma analogia com um enfermo onde lhe inquirem por que não deixa aquela cama, por que não vence aquela doença e volta a viver normalmente; pode até parecer meio exagerada tal comparação; contudo, é simples julgar impossível o que nunca sentimos ou presenciamos, como disse Shakespeare: "Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."

sábado, 18 de outubro de 2008

Modernidades


Hoje em dia, é comum ver diversos artefatos conjugados em apenas um, sendo este capaz de desempenhar a função exercida pelos demais. Um exemplo disso é o celular que em menos de um palmo denota carregar consigo uma calculadora, um mp3, uma câmera fotográfica, uma filmadora, um gravador de voz, além de uma infinidade de outras coisas. Logo, nos vemos obrigados a nos atualizar de forma tão célere como a tecnologia o faz, muitos acalentando a esperança de com isso disporem de mais tempo para fazer o que lhes aprouver. Porém, foi mera ilusão o fato de se ganhar tempo despendendo dinheiro em tecnologia, pois ela traz consigo novas necessidades (muitas delas infundadas, conseqüentemente infrutíferas), como as redundantes da internet que ao invés de nos possibilitarem um maior tempo livre nos aprisionam em frivolidades. Por exemplo, ganha-se tempo pesquisando na net algo que se levaria horas para fazer indo a uma biblioteca e recorrendo a uma miríade de livros. Entretanto, perde-se muito mais tempo no orkut e msn.

Porém, à medida que cresce a quantidade de acessórios "diversos em um", o número de pessoas competentes em diversas áreas é reduzido, por exemplo, em um tempo onde não havia quase nada de tecnologia, Leonardo Da Vinci era pintor, matemático, escultor, arquiteto, físico, escritor, engenheiro, poeta, cientista, botânico e músico, assim como diversos outros indivíduos que eram proficientes em uma infinidade de campos distintos. Embora, naquela época, não houvesse acesso à informação de forma simples e veloz, além de recursos cuja função é poupar-nos tempo. Portanto, o que estamos fazendo com o nosso tempo? E a tecnologia realmente nos presenteia com um maior tempo livre ou suga o pouco tempo do qual dispomos em prol de seus idealizadores?

Achei o seguinte trecho em um blog deveras interessante, de propriedade e autoria do Rafael Cortez, que fala acerca do que perdemos com a enorme importância dada à tecnologia: "Um DJ inglês que vem ao Brasil fazer um show sem-vergonha com uma porrada de sintetizadores e nenhum acorde é um espetáculo; um concerto dos irmãos Assad é coisa pra eruditos – e, pra moçada, coisa de velho. Um cara quebra a cabeça, pensa pra cacete e cria um software que faz qualquer coisa pra você no computador... enquanto isso, um estudante de Filosofia da USP escreve um ensaio fantástico sobre algum tipo de comportamento humano, publica em um site e tem meia dúzia de visitas."

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Pense nisso


Esses dias, virei madrugada adentro ouvindo rádio, algo que não fazia há um bom tempo (refiro-me a ouvir rádio; ficar a madruga acordado já é mais do que um hábito), e no programa o qual ouvia estava Humberto Gessinger, líder da banda Engenheiros do Hawaii e ele contou uma breve, contudo interessante história, onde sugeriu a um parceiro de tênis dissimularem que eram dois dos melhores tenistas do mundo e sua partida equivaleria à final de Wimbledon, seu amigo ficou atônito com a sugestão e disse que aquilo era um tanto infundado, portanto Humberto retorquiu dizendo que um absurdo eram dois homens velhos usando calções correrem durante cerca de não sei quanto tempo atrás de uma bolinha, onde cada um segurava uma pedaço de pau.
Bom, a finalidade de tal historinha é dar luz a certas coisas que fazemos sem sequer nos darmos conta do quão estranhas podem ser, simplesmente porque quando nascemos elas já existem, nossos pais comentam as mesmas com a mais genuína das naturalidades, e todo mundo delas usufrui. Por exemplo, a dança, não que seja algo feio, pelo contrário; contudo, não é estranho ir a uma festa e ver uma infinidade de pessoas fazendo movimentos esquisitos? Ou 24 pessoas correndo atrás de uma coisa redonda e milhares pagando a fim de lhes assistir em um estádio?
O mesmo ocorre com a nossa cultura, nascemos imersos nela e é tudo muito natural, Einstein, de forma um tanto dura, faz a seguinte afirmação: "A tradição é a personalidade dos imbecis"; entretanto, acredito que a afirmação não se deva ao fato da cultura de determinado país ser uma coisa imbecil, mas sim ao fato de quase todos seguirem-na à risca sem jamais se perguntarem o porquê daqueles hábitos. Alguns intelectuais afirmam que toda a influência é imoral, porque acaba fazendo com que as pessoas se esqueçam de pensar por si sós sem se basear nas informações alheias e sem considerar o que os outros pensarão a respeito de suas atitudes, quanto a isso Nietzsche afirma: "É mais fácil enfrentar uma má reputação do que uma má consciência". Todavia, talvez seja como foi dito em O admirável mundo novo: "Crê-se em algo que se foi condicionado a crer", e tal condicionamento ocorre desde o nosso nascimento, porque aonde quer que vamos há alguém mostrando o que se deve ou não fazer, o permitido e o ilegal. Porém, por que correr atrás de uma bolinha de bermuda e com um pedaço se pau seria motivo de espanto, se encaramos a própria miséria e falta de oportunidade pra tantas pessoas com tanta naturalidade?

domingo, 12 de outubro de 2008

Superstição


Estou em uma "animada" tarde de domingo, em frente ao PC, ouvindo Animals do Pink Floyd, que teve por base para a sua concepção um livro que faz uma crítica à alienação, portanto resolvi escrever sobre algo que eu acho um tanto infundado de se acreditar: as superstições.
O motivo real para escrever sobre este assunto não foram as canções do Animals, embora essas tiveram alguma influência, mas sim um trecho de um programa bobo que vi em outra tarde deveras animada, desconheço o nome do programa; contudo, é um que passa no SBT, cuja apresentadora é a Márcia Goldshiahiauiwhuw. Neste, um marido afirmou que traiu a esposa, diante de tal afirmação qual foi a pergunta que a Márcia lhe fez? Exatamente! "Qual o seu signo?", inquiriu a apresentadora, tendo como resposta um signo qualquer do rapaz, e afirmou que a traição podia ter ocorrido porque os signos dele e da mulher não eram muito condizentes. Eu me obriguei a desligar a TV e ir fazer algo mais interessante, ou menos inútil, como ir assistir à grama crescer.
Eu não sei muito sobre a origem de tais superstições e nem sequer me prestei a procurar no google, porém, há muito tempo, as pessoas a fim de entender a razão dos fenômenos da natureza atribuíam aos deuses tais acontecimentos. Daí que surgiram ambos, tornando a explicação de algo desconhecido oriunda de algo mais desconhecido ainda.
E no que tange a gatos pretos, trevos de quatro folhas e afins, suas origens devem ser bem interessantes (a curiosidade vai fazer com que eu recorra ao google); entretanto, o que um reles felino tem de sobrenatural que o simples fato de ele cruzar o seu caminho lhe trará uma infinidade de má sorte? Ou em que redundará o ato de passar sob uma escada, um objeto inanimado, diga-se de passagem, assim como a quebra de um espelho (o resultado deste é notório: são 7 anos de azar) ou o fato do caráter de uma pessoa depender mais do seu signo do que de suas vivências?

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Fahrenheit 451


Um pensamento crítico é algo um tanto insólito atualmente, pois tudo é imposto de uma maneira muito parcial, sobretudo por alguns meios de comunicação; é como se não houvesse aquela importante lacuna onde o vazio deveria ser preenchido pela conclusão à qual cada um chegaria por meio da análise do que ali fosse apresentado; contudo, isso é desnecessário, pois a conclusão é como um cavalo de tróia, um falso presente distribuído junto com o produto, e às pessoas só resta, como forma de gratidão, difundir tais idéias sem constatá-las.
No filme Fahrenheit 451, uma crítica ao conformismo dessa grande maioria é feita de uma forma bastante peculiar, mediante uma grande ironia, onde os bombeiros, outrora responsáveis por acabar com os incêndios, são incumbidos da geração dos mesmos, e são justamente os livros, em cujas páginas encontram-se a história da humanidade e as mais distintas formas de pensamento, o objeto incinerado por esses profissionais. A justificativa para tal ato é que os livros nos fazem infelizes, além de mostrarem algo irreal; entretanto, aqui pode se notar outra ironia exposta no filme, pois uma das principais funções das obras literárias é nos abrir os olhos para o que ocorre em volta e instigar o pensamento a fim de que cada um descubra a si próprio para escapar da alienação, como disse Friedrich Nietzsche “Quem não obedece a si mesmo é regido por outros”. Após entrar em contato com uma determinada garota, o protagonista do filme, que era um bombeiro, começa a pensar e, em seguida, a questionar a lógica da queima de tanta informação preciosa, a partir desse momento, tentou despertar sua esposa de seu “transe” juntamente com algumas de suas amigas, pois estas despendiam sua via defronte à televisão, todavia de nada adiantou, porque as mulheres o viram como insano, o que acabou resultando em uma denúncia aos bombeiros feita por sua mulher alegando que seu marido dispunha de livros em casa, conseqüentemente provocando a fuga deste. Como em A alegoria na caverna de Platão, após descobrir a “luz”, o protagonista tentou fazer com que outras pessoas emergissem da escuridão; foi tratado, porém, com animosidade pelas mesmas. Aqui, torna-se providencial outra citação de Nietzsche: “Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar”
São inimagináveis as conseqüências que a privação da literatura traria ao homem, pois assim como todos temos direito à alimentação para que consigamos viver, todos deveriam tê-lo no que tange à possibilidade de ler um bom livro, deste modo nutrindo a mente com novas idéias.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A Revolução dos Bichos


A revolução dos bichos foi um livro que tive a sorte de encontrar por nada mais, nada menos que 5 pila na feira do livro, que houve aqui em bagé, há alguns dias. O mais fascinante é a grande metáfora utilizada pelo autor representando a humanidade na forma de animais pensantes (alguns nem tanto, é verdade) que fazem uma revolução expulsando os humanos da fazenda onde habitam e dão origem ao Animalismo, um sistema justo que visa melhores condições a todos os animais de forma igualitária, onde cada um trabalharia de acordo com suas capacidades. As regras/leis são expostas em uma parede onde os animais (que haviam aprendido a ler e escrever ao longo da revolução, verdade que nem todos tiveram muito êxito) escreveram os 7 mandamentos do Animalismo, como não beber, não dormir em camas, etc, visando se distanciar o máximo dos cruéis seres humanos; contudo, com o passar do tempo, adendos são feitos a esses mandamentos a fim de favorecer os mais poderosos (porcos e cachorros), usufruindo-se da péssima memória e fácil resignação dos animais "inferiores" diante de uma boa dose de persuasão. Adendos como "não beber em excesso", "não dormir em camas com lençóis", etc, e assim os mais poderosos vão se transformando cada vez mais no que abominavam (humanos). Outro fator interessante na obra, é a ausência dos clássicos finais felizes, porquanto a história simplesmente tem sequência, sem haver um glorioso fim. Uma leitura incrivelmente agradável. Agora, alguns fatos interessantes acerca do livro e de sua repercussão: 3 dos porcos presentes na obra fazem alusão a Stalin, Karl Marx e Trotsky, e o álbum Animals, do Pink floyd, lançado em 1977, tem como base para suas composições a obra de Geoge Orwell, as faixas são intituladas de "Pigs on the wing 1", "Dogs", "Pigs (three different ones)", "Sheep" e "Pigs on the wing 2", nomes baseados em personagens do livro, porcos, cachorros e ovelhas.