
Em um pub, à noite.
Humberto: Bom amigo, vamos conversar e beber alguma coisa. Henry: Decerto, bom companheiro.
Humberto: Pois me conte o que tem feito.
Henry: Agora, que já vivi por mais de 55 anos, ando zelando pela minha saúde, porque é dito que ao nos acercarmos dos 60 anos, tendemos a ser acometidos pelos piores acasos, se assim os ousarmos chamar.
Humberto: Henry, acredito que não possamos medir o quanto vivemos meramente calculando o tempo decorrente do momento de nosso nascimento até o presente.
Henry: Como não, bom amigo? Não o compreendo, pois é desta forma que todos sabem o quanto já viveram.
Humberto: Você pode afirmar quem é o músico com maior proficiência em seu instrumento entre um que toque há 8 anos e outro que o faça há apenas 3, onde ambos pratiquem diariamente?
Henry: Creio que o mais competente seja o que toca há mais tempo.
Humberto: Embora o primeiro pratique durante duas horas por dia e o segundo, sete, sendo as canções escolhidas por este bem mais elaboradas?
Henry: Sendo assim, devo mudar minha resposta por causa dos fatos agora apresentados.
Humberto: Exatamente, meu caro, pois não se deve atribuir a números o valor e a longevidade das coisas, mas sim ao que é feito e à maneira por que isso é feito. Ademais, creio que também deva mudar sua opinião sobre o modo de se contar o quanto foi vivido, pois de que adianta viver 80 anos imerso em frivolidades e despendendo seu tempo com o pouco valioso e necessário, com o acúmulo desmedido de bens, com a desmesurada vaidade?
Henry: Pois seu raciocínio está correto, prezado amigo, se formos pensar por esse ponto de vista.
Humberto: Decerto, meu caro, assim como determinado tipo de planta crescerá mais em um solo fértil que um mesmo exemplar de sua espécie em outro menos propício, embora o tempo de existência da primeira seja bem menor em relação à outra. O mesmo se sucede em relação à vida.
Henry: Excelente. Deixe-me pedir uma cerveja enquanto prosseguimos com nosso diálogo, velho companheiro.