domingo, 28 de dezembro de 2008
Sobre a brevidade da vida
Em um pub, à noite.
Humberto: Bom amigo, vamos conversar e beber alguma coisa. Henry: Decerto, bom companheiro.
Humberto: Pois me conte o que tem feito.
Henry: Agora, que já vivi por mais de 55 anos, ando zelando pela minha saúde, porque é dito que ao nos acercarmos dos 60 anos, tendemos a ser acometidos pelos piores acasos, se assim os ousarmos chamar.
Humberto: Henry, acredito que não possamos medir o quanto vivemos meramente calculando o tempo decorrente do momento de nosso nascimento até o presente.
Henry: Como não, bom amigo? Não o compreendo, pois é desta forma que todos sabem o quanto já viveram.
Humberto: Você pode afirmar quem é o músico com maior proficiência em seu instrumento entre um que toque há 8 anos e outro que o faça há apenas 3, onde ambos pratiquem diariamente?
Henry: Creio que o mais competente seja o que toca há mais tempo.
Humberto: Embora o primeiro pratique durante duas horas por dia e o segundo, sete, sendo as canções escolhidas por este bem mais elaboradas?
Henry: Sendo assim, devo mudar minha resposta por causa dos fatos agora apresentados.
Humberto: Exatamente, meu caro, pois não se deve atribuir a números o valor e a longevidade das coisas, mas sim ao que é feito e à maneira por que isso é feito. Ademais, creio que também deva mudar sua opinião sobre o modo de se contar o quanto foi vivido, pois de que adianta viver 80 anos imerso em frivolidades e despendendo seu tempo com o pouco valioso e necessário, com o acúmulo desmedido de bens, com a desmesurada vaidade?
Henry: Pois seu raciocínio está correto, prezado amigo, se formos pensar por esse ponto de vista.
Humberto: Decerto, meu caro, assim como determinado tipo de planta crescerá mais em um solo fértil que um mesmo exemplar de sua espécie em outro menos propício, embora o tempo de existência da primeira seja bem menor em relação à outra. O mesmo se sucede em relação à vida.
Henry: Excelente. Deixe-me pedir uma cerveja enquanto prosseguimos com nosso diálogo, velho companheiro.
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Recriações Cinematográficas
Muitas vezes, é frustrante assistir a um filme baseado em uma obra literária, devido à ínfima fidelidade com o original, tal infidelidade nem sequer decorre de uma interpretação feita pelo diretor divergente da nossa, pois se assim o fosse, seria plenamente compreensível; contudo, os diretores modificam as histórias como lhes convém, se aproveitando das idéias de outrem para expressar as suas, é o mesmo que um tradutor modificar a obra original como lhe aprouver: infundado.
Pois, por que não criam suas próprias obras genuinamente ao invés de modificarem as de outros? Porque há uma grande distinção entre criar, reproduzir e recriar, este último nem mesmo deveria estar presente na literatura e no cinema, salvo algumas exceções. Talvez pensem que é indigno de mérito fazer algo deveras similar ao original; entretanto, é aí que reside o realmente sublime, apresentar aos admiradores da obra original todos os personagens sem substituições ou omissões relevantes concernentes a estes e à história.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Crer por conveniência
É comum e interessante o fato de cada indivíduo ter as suas crenças, estas que são adquiridas ao longo da vida normalmente mediante o pensamento e as experiências; contudo, outras só têm por base um suposto benefício próprio, para exemplificar, outrora, o desconhecido era atemorizante, e ainda o é, logo se atribuiu aos deuses a responsabilidade pelos fenômenos da natureza para contentamento da grande maioria, pois estes passaram a acreditar em tal fato não por uma questão de lógica, porém por conveniência, porque daquele instante em diante tinham algumas preocupações a menos para lhes tirar o sono.
Assim como oráculos eram consultados na antiguidade, cartomantes o são hoje em dia, e é notório que quanto melhor for a previsão para nosso futuro dada por estas, maior será nossa crença em tais informações. Do mesmo modo, muitos crêem que mal de muitos consolo é, pois tal afirmação faz com que se sintam mais leves, além da enorme conveniência presente em tal crença: poder continuar cometendo os mesmos erros, porquanto muitos também os cometem.
Portanto, é preferível acreditar em uma ilusão do que ficar sem respostas? Crer no que nos convém é bom até certo ponto, até que nos sintamos culpados e tenhamos de pagar por crimes que só recebem tal título na legislação de outrem.
*Após a publicação deste texto, me deparei com um interessante trecho de Bertrand Russell em sua obra Ensaios Céticos, no qual o autor se refere às crenças dos mais primitivos selvagens, que julguei ser um ótimo adendo para o presente escrito: "Crêem que quando um homem é assassinado, seu sangue ou sua alma persegue o assassino até ele se vingar, porém pode ser enganado por um simples disfarce como uma pintura vermelha no rosto ou pondo luto. A primeira parte desta crença originou-se, sem dúvida entre aqueles que temiam o assassinato, e a segunda, entre os que o haviam cometido.".
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Colóquio Vespertino
À tarde, em uma praça, dois amigos se reencontram após muito tempo.
Erasmo: Meu estimado amigo, há quanto tempo não o via
Arthur: Olá, bom companheiro, tenho dificuldades em exprimir minha alegria ao revê-lo
Erasmo: Pois, então, conte-me como vai a vida conjugal
Arthur: Esta se desfez assim que a ilusão se findou
Erasmo: Uma pena que a ilusão não seja perene, porque como disse Wilde: "No início enganamos a nós mesmos, em seguida, enganamos o outro: isso é o romance"
Arthur: Não seja tão duro, pois à medida que um romance chega ao fim, outro em breve terá seu início, porquanto há sempre alguém diferente de nós a nos fascinar com sua graça.
Erasmo: Você se equivoca, amigo, o deveras diferente tende a nos repelir .
Arthur: Pelo contrário, camarada, é notório que nosso maior fascínio é voltado àquilo que nos falta.
Erasmo: Outrora, não discordávamos tanto, a diferença não consegue viver muito tempo lado a lado com a sua antítese; assim como o fogo arrefece em contato com a água, as chamas do amor se apagam ante o efeito adverso causado pela simples emissão de ar da boca de quem a nós nem sequer se assemelha.
Arthur: Como posso ser completado por alguém idêntico a mim? Ansiamos por todas aquelas qualidades que nos são inalcançáveis.
Erasmo: Arthur, assim como quem é pequeno acaba por se sentir menor ainda se ao lado de alguém de grande estatura, a inteligência tem maior destaque ante a ignorância, portanto não existem metades que se completam.
Arthur: Você me confunde, Erasmo, deixe minhas convicções em paz, afinal tudo tende ao término e ao recomeço, as histórias são sempre iguais.
Erasmo: Suas idéias ainda não amadureceram plenamente quanto a este assunto, bom amigo, e frutos ainda não sazonados não são muito atrativos, e se os almejar retirar da árvore antes do amadurecimento, eles poderão ainda estar azedos.
As histórias são sempre as mesmas, você afirma; os personagens, contudo, mudam, logo elas podem ser no máximo parecidas, pois são estes que lhes dão valor.
Arthur: Fascinantes as suas teorias, prezado Erasmo, porém tenho de me retirar, espero que em breve nos encontremos novamente.
Erasmo: Felicidades, estimado companheiro.
domingo, 14 de dezembro de 2008
Cárcere das repetições
Independente da circunstância, noite ou dia
O mesmo alimento atrai o desalento
E quando não se está contente
Inevitavelmente, fica-se silente
Posso tocar o mesmo instrumento,
Contudo canções de alegria e lamento
Um assunto por muito não pode perdurar
Embora haja sempre os mesmos a conversar
Presenteie-me com sua ausência
Para que o afeto não entre em decadência
Por embalarmos a vida sempre na mesma cadência
*Baseado na frase: "Sempre que fazemos alguma coisa com muita frequência, ela jamais se constitui em um prazer", retirada da obra "O retrato de Dorin Gray", de Oscar Wilde
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Ilusão Formal
Estava lendo um pouco de Schopenhauer sobre a literatura e achei uma de suas passagens bem interessante, (na verdade, julguei várias como deveras pertinentes, mas vou citar indiretamente apenas uma) na qual o autor afirma que o principal fator de distinção entre algo digno de ser lido e algo dispensável é a forma, pois há inúmeros livros sobre historia, por exemplo; contudo, uma exígua parcela destes merece destaque, embora o tema possa ser o mesmo, o que distingue-os dos demais é a maneira pela qual são escritos, obviamente se levando em conta as idéias do autor, mas isso acaba sendo um reflexo da forma.
Portanto, é importante um cuidado para não se concordar com tudo que é lido (ou ouvido), simplesmente por este ser agradável e/ou bem escrito; deve ser atribuída a tal poder de persuasão, que um texto bem apresentado pode exercer, a duração de pensamentos hoje vistos como infundados; porém, que eram vistos como verdades imutáveis outrora.
Um exemplo com o qual me deparei há poucos dias: li em algum lugar o seguinte adágio (ao menos acredito que o seja): "Metas costumam decepcionar! Sem alvo para atingir, a flecha jamais erra", à primeira vista achei fascinante tal frase, sobretudo pela excelente metáfora; todavia, a mesma simplesmente incentiva a ociosidade, o acaso, destarte, é preferível que uma miríade de flechas erre seu alvo, do que elas nem sequer tenham um alvo objetivado.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Um sonho dentro de um sonho
Pois com ele me despeço rumo ao horizonte
Deste modo, deixe que lhe conte:
Você não está errada ao considerar
Que meus dias têm sido um eterno sonhar
Contudo, se a Esperança desaparecia
À noite, ou enquanto era dia
Em uma visão, ou em nenhum
Não resta Esperança, nem sentimento algum
Tudo aquilo que nós vemos ou parecemos
Não passa de um sonho dentro de um sonho que perdemos
Eu fico imóvel em meio a rugidos
De um mar atormentado em seus bramidos
E seguro entre minhas mãos
Dourados e arenosos grãos
Quão pouco! Entretanto estão partindo
Por entre meus dedos vão sumindo
Enquanto a dor vai me consumindo
Ó, Deus! Não posso dar-lhes abrigo
Em minhas mãos, mantê-los comigo?
Ó, Deus! Não posso sequer um resgatar
Desta impiedosa fúria do mar?
Será tudo que vemos ou parecemos
Um sonho dentro de um sonho que perdemos?
* Tradução do poema A dream within a dream de Edgar Allan Poe, que fiz na faculdade
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
NINGUÉM = ninguém
Não é interessante conversar com um amigo acerca da infância e ficar intrigado com tantas brincadeiras e sonhos em comum, eu tive a ilusão de ter sido uma das poucas crianças que sonhou em ser astronauta ou brincou de pára-quedas com bonecos e sacolas, um disparate, pois praticamente todo mundo em tenra idade já fez tais coisas. O questionamento é oriundo daí: não seríamos praticamente todos iguais enquanto pequenos, porque assistíamos aos mesmos desenhos, tínhamos os mesmos heróis, além de não fazermos grandes reflexões sobre nós mesmos?
Embora cresçamos, é possível ver muitas pessoas na adolescência agindo de forma análoga ou até mesmo idêntica, quiçá pelos mesmos motivos das crianças: vêem somente as mesmas coisas e pouco pensam sobre si próprias. Em minha cidade, por exemplo, os lugares pra se ir à noite são voltados somente a um público, pois é o que predomina, havendo ínfimas reclamações, assim como exceções.
Contudo, quando é alcançada uma idade mais elevada, as pessoas começam a se distinguir um pouco umas das outras, talvez devido ao amadurecimento companheiro de viagem da idade, e pelas ocupações que impossibilitam uma ociosidade que molda as pessoas de uma forma tão parecida. Como foi dito na grande obra de George Orwell: "Todos iguais, mas uns mais iguais que os outros".
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Veneração ou cegueira desmesurada
É uma tarde chuvosa e fastidiosa, onde o tempo denota não ter nenhuma pressa de passar, embora eu anseie pela sua passagem (de forma célere, preferencialmente); contudo, é como clamar com os olhos para que o relógio acelere seu movimento, ou seja: inútil, o máximo que se pode conseguir é o efeito contrário. Na verdade o tempo age de forma oposta à que almejamos, li em algum lugar que enquanto se é novo, sentimos como se tivéssemos um longo percurso a percorrer, entretanto quando se é velho, parece que andamos tão pouco e já estamos nos acercando do término da vida. (mais uma vez o tempo agindo contra nossos anseios).
Ok, porém o assunto deste post não é o tempo, mas sim formas irracionais de veneração, certo dia, estava assistido a um programa de madrugada, e no mesmo havia uma calorosa discussão acerca de mitigar a maioridade penal, havendo os dois lados da moeda a opinar, e no término do debate, um artista do qual gosto bastante foi inquirido acerca da sua opinião sobre o assunto, o músico respondeu que sinceramente ele não sabia qual era sua opinião, enquanto olhava o programa, acompanhava na comunidade do orkut da banda as opiniões que os fãs deixavam, e a grande maioria achou excelente a resposta dada pelo vocalista, que convenhamos não disse nada, conquanto eu também seja fã, portanto embora sejamos fãs de alguém não devemos concordar com tudo que fala, assim como segui-lo cegamente.
domingo, 23 de novembro de 2008
Bem-vindo, tédio
Chega um visitante inesperado, há bastante tempo não dava o ar da graça, seria possível acalentar a ilusão de jamais com ele nos depararmos se não fôssemos tão dependentes do meio em que vivemos e de outrem. A indiferença oriunda de uma suposta fonte única de alegria, em seu limiar, é um sussurro, em instantes se torna um brado, culminando em um alarido, cuja função é chamar a mais repudiante das sensações, que embora julguemos estar a quilômetros de distância, nos acompanha mais do que nossa própria sombra, pois a ausência de luz, cuja função é inibir as sombras, lhe dá maior ânsia de surgir e nos atormentar, seu maior prazer.
Assim como cruzar por ruas inóspitas pode ser um tanto deprimente e assustador, uma vida desabitada é algo atemorizante, que ao menos haja visitas esporádicas, pois a maior verdade é que desabitada ela jamais será, porque quanto mais tentarmos assim deixá-la, mais vezes o tédio virá nos visitar, portanto que venham os amigos e as distrações e se vá o enfadonho, porquanto o tédio deve ser um visitante efêmero, jamais um eterno companheiro de quarto.
domingo, 9 de novembro de 2008
Metáforas
Uma obra literária para que tenha um grande impacto no leitor, a contento do que o escritor espera, não deve somente dispor de um assunto e de uma intenção por parte de quem a escreveu, pois a forma da mensagem é deveras importante, quiçá um divisor de águas entre o provido de talento literário e o destituído.
A forma é de extrema importância em todo tipo de arte, por exemplo, no jeito por que Shakespeare optou descrever o quão destrutivo e descabido é o ódio: "O ódio é um copo de veneno que bebemos esperando que o outro morra"; tal frase poderia ser dita de uma maneira mais simples, sem a utilização dessa bela metáfora, entretanto não causaria o mesmo impacto no leitor, ou no caso do poema Canção do amor imprevisto, de Mário Quintana, onde o poeta relata desta forma a chegada do amor à vida de alguém que faz de tudo para não ter de deparar com o mesmo; porém, sente uma imensa felicidade com a sua aparição :"A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil aonde viessem pousar os passarinhos". Assim como na música, tendo como exemplo a canção Nunca se sabe, da banda Engenheiros do Hawaii, onde há o seguinte trecho: "Se ando sempre apressado, se nunca sei que horas são, é porque nunca se sabe até que horas os relógios funcionarão", que nos fala da brevidade da vida e dos temores referentes a ela, de um jeito bastante criativo, utilizando-se de um campo semântico concernente ao tempo e de mais uma bela e inteligente metáfora.
sábado, 1 de novembro de 2008
A verdade a ver navios II
O tempo denotava se arrastar enquanto esperava diante da porta fechada, o silêncio o atemorizava, e manias estranhas típicas do nervosismo, como mexer nos cabelos, lhe acometiam aos montes. Por fim, após três quartos de hora ou quinze segundos, alguém veio lhe atender, afirmando que a garota a qual ele estava procurando, no momento, ali, não se encontrava. Agradeceu e saiu a passos vagarosos, ainda incerto se aliviado ou consternado pela ausência da garota. Notou que a perda do temor fora mera ilusão; contudo, às vezes, é preciso enganar a si próprio a fim de que algo bom tenha chances de acontecer, pensou, afinal o fazemos tanto e nem sequer com nobres intenções, simplesmente visando protelar algo enfadonho deixando tal incumbência para o nosso "eu de amanhã".
A dúvida pairava sobre sua cabeça, não sabia se ia, embora atrasado, para a sua aula ou se ia embora para casa aproveitar o momento para compor uma canção infeliz em sua velha viola. Enquanto estava imóvel em uma praça, nas cercanias da casa da menina, acompanhado da indecisão, notou uma bela garota ruiva andando do outro lado da rua. Obviamente, era quem ele almejava ver, atravessou a rua vacilante, tentando, da melhor forma possível, dissimular naturalidade. A garota parou após a menção de seu nome e ambos conversaram por alguns intantes, ao fim cada um saiu em uma direção distinta; entretanto, podia se notar um sorriso no rosto do rapaz, cuja aparição este foi incapaz de conter.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
A verdade a ver navios I
Era uma cálida e agradável tarde de verão, deveras propício para se ficar em casa pensando na vida ou fazendo alguma outra coisa agradável; contudo, o rapaz de cabelos desgrenhados estava atrasado, corria contra o tempo e enfrentava um calor infernal. O silêncio o incomodava, porém não mais que a barulheira da cidade grande, portanto pôs seus fones de ouvido e escolheu uma música aleatoriamente em seu mp3, a canção executada por obra do acaso foi A verdade a ver navios da banda Engenheiros do Hawaii, cuja letra fala sobre oportunidades desperdiçadas justamente na hora em que elas tinham a maior probabilidade de sucesso, simplesmente por falta de coragem. Enquanto andava celeremente em direção ao seu destino, começou a refletir acerca das palavras ditas na música, e de súbito, uma infinidade de imagens lhe veio à mente, havia perdido oportunidades demais, pensou. Rememorou garotas adoráveis que deixara escapar por entre os dedos, por receio de abraçá-las, sobretudo uma de doces cabelos avermelhados. De súbito o tempo deixou de ser importante, já não mais sabia aonde estava indo. O sol alaranjado denotou dar-lhe confiança, decidiu usufruir desse momento onde temor algum o rodeava e mudando seu rumo foi em passos mais céleres ainda rumo a um perdão que tanto almejava e quiçá a intrepidez pudesse ajudá-lo a obter. Cantarolando um trecho da canção a qual acabara de ouvir: "É muito engraçado que todos tenham os mesmos sonhos e que o sonho nunca vire realidade", parou defronte a uma grande porta, felizmente, nem sequer pensou em desistir, desistiu de premeditar o que ia dizer, tocou a campainha e aguardou.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Passos e pensamentos
Era um indivíduo um tanto excêntrico, vinha retornando para casa após um dia comum, ou seja, fastidioso, voltava sozinho, sem pessoas, sem música, acompanhado apenas por ele próprio e seus pensamentos, que nessas horas são os melhores acompanhantes. Notou a noite, as pessoas em frente à televisão em lares quentes e os postes a cujas luzes já tinha sido ordenado que se acendessem. Pensou acerca da relatividade do tempo, pois se apercebeu do quanto estava custando para chegar em casa, porque é notório que caminhamos mais rápido quando andamos sozinhos, pensou ele, entretanto uma boa companhia é capaz de enganar o tempo ou a nossa percepção acerca do mesmo. Rememorou o quanto um minuto pareceu uma eternidade enquanto segurava uma panela escaldante, assim como uma eternidade denotou não durar mais que um minuto quando estava ao lado de uma garota adorável. Sim, o tempo é relativo. Em outro assunto que pensava bastante quando vinha em altos diálogos mudos consigo mesmo era nos conceitos de bom e ruim. Via o bem como o difícil de se alcançar, como um bom emprego, uma garota distinta, a capacidade de tirar novos sons de sua guitarra, e o ruim como o simples de se obter, por exemplo, ser exonerado de seu trabalho; era pura questão de negligenciá-lo, ou de findar um namoro, algo tão simples fazer alguém deixar de gostar da gente, difícil mesmo é conquistar, assim como abandonar a música e julgá-la inalcançável é tão, tão fácil. Pronto. Chegou em casa e notou que não foi de todo infrutífera sua caminhada pelas ruas pouco iluminadas, agradeceu pela companhia, destrancou a porta e adentrou.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Reminiscências
Há um tempo, existiam dois grandes amigos, possivelmente ambos ainda existam; a amizade, contudo, se desfez. Não por obra de alguma ação por parte de um deles, mas sim devido a um comum distanciamento que a própria vida se encarrega de gerar. Um deles dispunha de um vídeo game, do qual ambos usufruíam com afinco e alegria. Houve uma promoção em um grande mercado da cidade onde viviam, esta consistia em dar um exemplar daquele moderno aparelho que abrilhantava as tardes dos dois garotos a quem acertasse o futuro campeão mundial de futebol (pelo menos foi essa a interpretação feita por um deles), ganhava-se uma cautela comprando acima de uns tantos reais e ali se assinalava o nome do time o qual se acreditava que seria o novo campeão. O garoto, no auge da esperteza infantil, obteve duas cautelas e assinalou em cada uma delas o nome de um dos times concorrentes, e na parte concernente aos dados pessoais pôs os do amigo, deste modo jurando que este acabaria por ganhar o tão cobiçado aparelho, pois não haveria como errar o campeão tendo apostado em ambos. Doce ilusão, melhor defini-la como amarga. Logo, seus pais lhe explicaram que o prêmio seria concedido mediante um sorteio para um daqueles que marcaram a opção correta, acabando assim com parte da inocência a qual cingia o garoto. Incrível seria se as coisas sucedessem assim como as imaginávamos quando éramos criança, deste modo pensa um deles, quiçá ambos, impossível de se saber.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Influências
Estava esses dias lendo Os sofrimentos do jovem Werther e há duas passagens bem interessantes acerca do quão afetados somos por outrem. Na primeira, o protagonista conta a um amigo como conseguia ser muito de si mesmo na presença de determinada garota, o que concordo bastante, primeiramente porque é incrível como juntos de certas pessoas parece que a nossa criatividade se aguça, entre diversas outras mudanças positivas, nos sentimos à vontade e, consequentemente, somos o máximos de nós mesmos. Segundo, pois concordo com o fato de uma pessoa não poder ser mais do que realmente é. No segundo trecho, o jovem por tanto sofrer de amor faz uma analogia com um enfermo onde lhe inquirem por que não deixa aquela cama, por que não vence aquela doença e volta a viver normalmente; pode até parecer meio exagerada tal comparação; contudo, é simples julgar impossível o que nunca sentimos ou presenciamos, como disse Shakespeare: "Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
sábado, 18 de outubro de 2008
Modernidades
Hoje em dia, é comum ver diversos artefatos conjugados em apenas um, sendo este capaz de desempenhar a função exercida pelos demais. Um exemplo disso é o celular que em menos de um palmo denota carregar consigo uma calculadora, um mp3, uma câmera fotográfica, uma filmadora, um gravador de voz, além de uma infinidade de outras coisas. Logo, nos vemos obrigados a nos atualizar de forma tão célere como a tecnologia o faz, muitos acalentando a esperança de com isso disporem de mais tempo para fazer o que lhes aprouver. Porém, foi mera ilusão o fato de se ganhar tempo despendendo dinheiro em tecnologia, pois ela traz consigo novas necessidades (muitas delas infundadas, conseqüentemente infrutíferas), como as redundantes da internet que ao invés de nos possibilitarem um maior tempo livre nos aprisionam em frivolidades. Por exemplo, ganha-se tempo pesquisando na net algo que se levaria horas para fazer indo a uma biblioteca e recorrendo a uma miríade de livros. Entretanto, perde-se muito mais tempo no orkut e msn.
Porém, à medida que cresce a quantidade de acessórios "diversos em um", o número de pessoas competentes em diversas áreas é reduzido, por exemplo, em um tempo onde não havia quase nada de tecnologia, Leonardo Da Vinci era pintor, matemático, escultor, arquiteto, físico, escritor, engenheiro, poeta, cientista, botânico e músico, assim como diversos outros indivíduos que eram proficientes em uma infinidade de campos distintos. Embora, naquela época, não houvesse acesso à informação de forma simples e veloz, além de recursos cuja função é poupar-nos tempo. Portanto, o que estamos fazendo com o nosso tempo? E a tecnologia realmente nos presenteia com um maior tempo livre ou suga o pouco tempo do qual dispomos em prol de seus idealizadores?
Achei o seguinte trecho em um blog deveras interessante, de propriedade e autoria do Rafael Cortez, que fala acerca do que perdemos com a enorme importância dada à tecnologia: "Um DJ inglês que vem ao Brasil fazer um show sem-vergonha com uma porrada de sintetizadores e nenhum acorde é um espetáculo; um concerto dos irmãos Assad é coisa pra eruditos – e, pra moçada, coisa de velho. Um cara quebra a cabeça, pensa pra cacete e cria um software que faz qualquer coisa pra você no computador... enquanto isso, um estudante de Filosofia da USP escreve um ensaio fantástico sobre algum tipo de comportamento humano, publica em um site e tem meia dúzia de visitas."
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Pense nisso
Esses dias, virei madrugada adentro ouvindo rádio, algo que não fazia há um bom tempo (refiro-me a ouvir rádio; ficar a madruga acordado já é mais do que um hábito), e no programa o qual ouvia estava Humberto Gessinger, líder da banda Engenheiros do Hawaii e ele contou uma breve, contudo interessante história, onde sugeriu a um parceiro de tênis dissimularem que eram dois dos melhores tenistas do mundo e sua partida equivaleria à final de Wimbledon, seu amigo ficou atônito com a sugestão e disse que aquilo era um tanto infundado, portanto Humberto retorquiu dizendo que um absurdo eram dois homens velhos usando calções correrem durante cerca de não sei quanto tempo atrás de uma bolinha, onde cada um segurava uma pedaço de pau.
Bom, a finalidade de tal historinha é dar luz a certas coisas que fazemos sem sequer nos darmos conta do quão estranhas podem ser, simplesmente porque quando nascemos elas já existem, nossos pais comentam as mesmas com a mais genuína das naturalidades, e todo mundo delas usufrui. Por exemplo, a dança, não que seja algo feio, pelo contrário; contudo, não é estranho ir a uma festa e ver uma infinidade de pessoas fazendo movimentos esquisitos? Ou 24 pessoas correndo atrás de uma coisa redonda e milhares pagando a fim de lhes assistir em um estádio?
O mesmo ocorre com a nossa cultura, nascemos imersos nela e é tudo muito natural, Einstein, de forma um tanto dura, faz a seguinte afirmação: "A tradição é a personalidade dos imbecis"; entretanto, acredito que a afirmação não se deva ao fato da cultura de determinado país ser uma coisa imbecil, mas sim ao fato de quase todos seguirem-na à risca sem jamais se perguntarem o porquê daqueles hábitos. Alguns intelectuais afirmam que toda a influência é imoral, porque acaba fazendo com que as pessoas se esqueçam de pensar por si sós sem se basear nas informações alheias e sem considerar o que os outros pensarão a respeito de suas atitudes, quanto a isso Nietzsche afirma: "É mais fácil enfrentar uma má reputação do que uma má consciência". Todavia, talvez seja como foi dito em O admirável mundo novo: "Crê-se em algo que se foi condicionado a crer", e tal condicionamento ocorre desde o nosso nascimento, porque aonde quer que vamos há alguém mostrando o que se deve ou não fazer, o permitido e o ilegal. Porém, por que correr atrás de uma bolinha de bermuda e com um pedaço se pau seria motivo de espanto, se encaramos a própria miséria e falta de oportunidade pra tantas pessoas com tanta naturalidade?
domingo, 12 de outubro de 2008
Superstição
Estou em uma "animada" tarde de domingo, em frente ao PC, ouvindo Animals do Pink Floyd, que teve por base para a sua concepção um livro que faz uma crítica à alienação, portanto resolvi escrever sobre algo que eu acho um tanto infundado de se acreditar: as superstições.
O motivo real para escrever sobre este assunto não foram as canções do Animals, embora essas tiveram alguma influência, mas sim um trecho de um programa bobo que vi em outra tarde deveras animada, desconheço o nome do programa; contudo, é um que passa no SBT, cuja apresentadora é a Márcia Goldshiahiauiwhuw. Neste, um marido afirmou que traiu a esposa, diante de tal afirmação qual foi a pergunta que a Márcia lhe fez? Exatamente! "Qual o seu signo?", inquiriu a apresentadora, tendo como resposta um signo qualquer do rapaz, e afirmou que a traição podia ter ocorrido porque os signos dele e da mulher não eram muito condizentes. Eu me obriguei a desligar a TV e ir fazer algo mais interessante, ou menos inútil, como ir assistir à grama crescer.
Eu não sei muito sobre a origem de tais superstições e nem sequer me prestei a procurar no google, porém, há muito tempo, as pessoas a fim de entender a razão dos fenômenos da natureza atribuíam aos deuses tais acontecimentos. Daí que surgiram ambos, tornando a explicação de algo desconhecido oriunda de algo mais desconhecido ainda.
E no que tange a gatos pretos, trevos de quatro folhas e afins, suas origens devem ser bem interessantes (a curiosidade vai fazer com que eu recorra ao google); entretanto, o que um reles felino tem de sobrenatural que o simples fato de ele cruzar o seu caminho lhe trará uma infinidade de má sorte? Ou em que redundará o ato de passar sob uma escada, um objeto inanimado, diga-se de passagem, assim como a quebra de um espelho (o resultado deste é notório: são 7 anos de azar) ou o fato do caráter de uma pessoa depender mais do seu signo do que de suas vivências?
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Fahrenheit 451
Um pensamento crítico é algo um tanto insólito atualmente, pois tudo é imposto de uma maneira muito parcial, sobretudo por alguns meios de comunicação; é como se não houvesse aquela importante lacuna onde o vazio deveria ser preenchido pela conclusão à qual cada um chegaria por meio da análise do que ali fosse apresentado; contudo, isso é desnecessário, pois a conclusão é como um cavalo de tróia, um falso presente distribuído junto com o produto, e às pessoas só resta, como forma de gratidão, difundir tais idéias sem constatá-las.
No filme Fahrenheit 451, uma crítica ao conformismo dessa grande maioria é feita de uma forma bastante peculiar, mediante uma grande ironia, onde os bombeiros, outrora responsáveis por acabar com os incêndios, são incumbidos da geração dos mesmos, e são justamente os livros, em cujas páginas encontram-se a história da humanidade e as mais distintas formas de pensamento, o objeto incinerado por esses profissionais. A justificativa para tal ato é que os livros nos fazem infelizes, além de mostrarem algo irreal; entretanto, aqui pode se notar outra ironia exposta no filme, pois uma das principais funções das obras literárias é nos abrir os olhos para o que ocorre em volta e instigar o pensamento a fim de que cada um descubra a si próprio para escapar da alienação, como disse Friedrich Nietzsche “Quem não obedece a si mesmo é regido por outros”. Após entrar em contato com uma determinada garota, o protagonista do filme, que era um bombeiro, começa a pensar e, em seguida, a questionar a lógica da queima de tanta informação preciosa, a partir desse momento, tentou despertar sua esposa de seu “transe” juntamente com algumas de suas amigas, pois estas despendiam sua via defronte à televisão, todavia de nada adiantou, porque as mulheres o viram como insano, o que acabou resultando em uma denúncia aos bombeiros feita por sua mulher alegando que seu marido dispunha de livros em casa, conseqüentemente provocando a fuga deste. Como em A alegoria na caverna de Platão, após descobrir a “luz”, o protagonista tentou fazer com que outras pessoas emergissem da escuridão; foi tratado, porém, com animosidade pelas mesmas. Aqui, torna-se providencial outra citação de Nietzsche: “Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar”
São inimagináveis as conseqüências que a privação da literatura traria ao homem, pois assim como todos temos direito à alimentação para que consigamos viver, todos deveriam tê-lo no que tange à possibilidade de ler um bom livro, deste modo nutrindo a mente com novas idéias.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
A Revolução dos Bichos
A revolução dos bichos foi um livro que tive a sorte de encontrar por nada mais, nada menos que 5 pila na feira do livro, que houve aqui em bagé, há alguns dias. O mais fascinante é a grande metáfora utilizada pelo autor representando a humanidade na forma de animais pensantes (alguns nem tanto, é verdade) que fazem uma revolução expulsando os humanos da fazenda onde habitam e dão origem ao Animalismo, um sistema justo que visa melhores condições a todos os animais de forma igualitária, onde cada um trabalharia de acordo com suas capacidades. As regras/leis são expostas em uma parede onde os animais (que haviam aprendido a ler e escrever ao longo da revolução, verdade que nem todos tiveram muito êxito) escreveram os 7 mandamentos do Animalismo, como não beber, não dormir em camas, etc, visando se distanciar o máximo dos cruéis seres humanos; contudo, com o passar do tempo, adendos são feitos a esses mandamentos a fim de favorecer os mais poderosos (porcos e cachorros), usufruindo-se da péssima memória e fácil resignação dos animais "inferiores" diante de uma boa dose de persuasão. Adendos como "não beber em excesso", "não dormir em camas com lençóis", etc, e assim os mais poderosos vão se transformando cada vez mais no que abominavam (humanos). Outro fator interessante na obra, é a ausência dos clássicos finais felizes, porquanto a história simplesmente tem sequência, sem haver um glorioso fim. Uma leitura incrivelmente agradável. Agora, alguns fatos interessantes acerca do livro e de sua repercussão: 3 dos porcos presentes na obra fazem alusão a Stalin, Karl Marx e Trotsky, e o álbum Animals, do Pink floyd, lançado em 1977, tem como base para suas composições a obra de Geoge Orwell, as faixas são intituladas de "Pigs on the wing 1", "Dogs", "Pigs (three different ones)", "Sheep" e "Pigs on the wing 2", nomes baseados em personagens do livro, porcos, cachorros e ovelhas.